O “problema” do Transporte Clandestino

90% das notícias que envolvem a palavra-chave “Transporte Clandestino”, normalmente ilustram uma manchete com algum acidente grave em que algum veículo particular estava sendo utilizado ilegalmente para Transporte e, ou o motorista fugiu, ou algumas pessoas morreram e por ai vai. Os outros 10%, são citações de eventuais blitz que a Polícia e/ou órgão de Transporte faz, para coibir a ação deste tipo de locomoção.

Vocês leitores já estão acostumados com este tipo de notícia em diversas mídias:

PRF autua 105 veículos por transporte clandestino
Blitz Autua 23 veículos por transporte clandestino na BR-324
Van envolvida em acidente que matou dez pessoas fazia transporte clandestino
Transporte clandestino atua livremente na cara da Agerba e da PRF

E todas estas, tem um tom semelhante em sua narrativa: Demonstrar o quão perigoso e arriscado é se utilizar o Transporte Clandestino, orientar (de forma implícita) aos passageiros que não utilizem destes “serviços” e também, é claro, mostrar esse pessoal que faz esse tipo de Transporte como vilões da história.

O que é verdade. Em partes. O Transporte Clandestino abre brechas para que qualquer pessoa que possua uma Kombi, uma Sprinter e vans desse tipo, saia por ai colhendo pessoas e levando sabe-se Deus pra onde.

O passageiro não sabe (nem quer saber) se o motorista realmente é Habilitado, se ele possui documentação do veículo em dia o que é um problema muito sério, além do fator fuga em caso de acidentes como demonstrado acima.

Imagem de Amostra do You Tube

Mas, essa postagem vai levantar um outro ponto de vista sobre esse assunto, que muitas vezes não é discutido:

O Transporte Clandestino é uma CONSEQUÊNCIA

A velha lei da oferta e da procura. Em algumas reportagens por ai você pode encontrar esse pessoal se defendendo ao dizer, por exemplo, “A gente não obriga ninguém a entrar na van, as pessoas usam porquê querem”, o que também é verdade.

O que interessa pro passageiro é apenas se transportar. E muitas reportagens não consideram a situação atual do nosso “Transporte Regular” antes de cair matando em cima dos Clandestinos.

Mas é bom perceber que as empresas de Transporte os vêem como CONCORRENTES com mais benefício do que eles próprios (O clandestino não vai pagar nada de tarifa para a Prefeitura, por exemplo, como as empresas pagam)

É mencionado, por exemplo, que nas linhas urbanas que possuem o maior índice de Transporte Clandestino, o serviço realizado é desprezível?

É fácil tentar convencer as pessoas a não utilizarem este tipo de Transporte com imagens de acidentes mas…

Alguém já foi em algum ponto crítico da cidade, como por exemplo…. Shopping Iguatemi… 18:00 pra perguntar pras pessoas há quanto tempo elas estão esperando linhas como 1420 (Boca da Mata x Pituba) ou tentando embarcar em linhas como 1611 (Paripe x Pituba) ou 0422 (Pero Vaz/Itaigara) ?

E outra coisa também: Grande parte dos veículos considerados “Clandestinos”, muitas vezes oferecem mais conforto para o passageiro do que o próprio convencional.

Quantas Sprinters rodam por ai com Banco Encosto Alto e Ar-condicionado ligado? Enquanto não há novos ônibus comuns com essa configuração?

Claro que nem tudo são flores e também existem muitos micros rodando em estado depreciável sendo utilizado como Transporte Clandestino.

Imagem de Amostra do You Tube

Os passageiros, reféns do “Transporte Regular” atravessam dois cenários que não mudam:

1 – O Grande tempo de Espera.

Aquela situação que o ônibus simplesmente não passa em tempo hábil. E quando aparece, muitas vezes nem significa nada já que ele está na sua lotação máxima e nem param mais no ponto.

2 – A impossibilidade de entrar no veículo.

Tem outra situação também ruim: Existem certas linhas que são até “frequentes”, passando a cada 10 minutos em média, mas a demanda é tão grande e tão concentrada, que podem passar 3, 4, 5 ônibus que as pessoas também não vão conseguir pegar pelo excesso de lotação.

E sabe porquê isso? Porquê as linhas urbanas de Salvador, como já mencionei em postagens anteriores, seguem o perfil LEVA-TUDO-EM-UM e tem praticamente a MESMA ESTRUTURA de 20, 30 anos atrás. Continuamos com os “Lapas”, “Barras”, e “Pitubas” de sempre.

Só que um “Pituba” hoje carrega a demanda para Rodoviária/Itaigara/Iguatemi/Av.Tancredo Neves e seus Shoppings e a depender do Roteiro, ainda tem a Av.Paulo VI que é a Pituba propriamente dita.

Não se criam outras alternativas sólidas. Apenas fazem paleativos para gerenciar esse volume de demanda.

Atitudes para coibir o “Transporte Clandestino”

Além das fiscalizações com Blitz, esses paleativos que me refiro, é a criação de algumas “linhas filhas expressas” que a Transalvador já faz há algum tempo. Essas linhas abaixo, tem algumas versões alternativas que levam os passageiros do bairro para o centro pela manhã e, pela tarde/noite trazem eles do centro para o bairro com roteiros mais expressos que as linhas “mães” convencionais.

Existem várias outras linhas que também tem suas variações de roteiro, mas não sofrem ação direta dos Clandestinos.

O que acontece é que essas linhas, não conseguem atender plenamente suas demandas, causando um grande período de espera ou pela pouca frota, ou pelo excesso de demanda que já preenchem os veículos completamente. Restando aos passageiros utilizar a forma Clandestina para tentar se locomover.

A Origem do STEC

É bom mencionar que, pra quem talvez não saiba, o nosso atual STEC (Sistema de Transporte Especial Complementar), surgiu clandestinamente na época em que pessoas comuns usavam Kombis e Bestas (van da Kia) fazendo linhas que não existiam na época.

Na década de 90, existiam muitas delas fazendo linhas como Cajazeiras x Brasilgás, ou Castelo Branco x Itapuã, que eram conexões interbairro que não existiam de forma direta.

Com o crescimento da procura por este tipo de transporte alternativo, a Prefeitura, em 1997, acabou abrindo espaço e implantando uma licitação para que pessoas físicas pudessem participar de um sistema complementar, que cresceu e hoje em dia fornece um atendimento melhor do que algumas linhas convencionais.

Eles sofreram (e sofrem até hoje) perseguições das empresas de Transporte e da própria Mídia na época que exortava a população a não utilizá-los, da mesma forma que acontece hoje com os novos clandestinos.

Com o tempo, acabaram conseguindo implantar a Bilhetagem Eletrônica e integraram completamente o STEC com o sistema convencional, e hoje eles viraram uma cooperativa.

Hoje em dia, se você precisar de uma linha do STEC até em fins de semana (que os convencionais desaparecem), eles vão estar passando rigorosamente no horário. Mesmo as linhas que não são tão boas no STEC, mantém sua frequência funcionando.

Algumas sugestões úteis

 

É claro que este problema seria contornado caso as empresas e a Transalvador estivessem interessadas em investir na segregação da demanda concentrada.

Não adianta apenas renovar a frota. Tem que se criar novas alternativas para as demandas atuais, tais como:

  1. Estações de Transbordo em grandes Conjuntos;
  2. Criação de novas linhas dividindo a demanda das linhas troncais concentradoras
  3. Mudando o perfil das viagens expressas, tornando algo mais oficial e compatível com a nossa realidade;
  4. Reduzir o tempo das linhas modificando-as para roteiros mais enxutos e objetivos;
  5. Com essas 3 sugestões… parece ser até “fácil” a nível de sugestão, mas é algo que pode e já deveria estar sendo feito. Não apenas aumentar a frota das linhas que já existem, mas dar uma nova roupagem a elas. Passou da hora de se dividir os destinos das linhas PITUBA, LAPA e BARRA.

Já é possível perceber que cada centro comercial já tem suas demandas canalizadas, como por exemplo a região do Iguatemi, com seus diversos Shoppings.

Era muito possível se modificar linhas com destino a Pituba, para não voltarem pelo Itaigara (Hoje a maioria que pega o Caminho das Árvores/Av.Paulo VI voltam pela Av.ACM), para que elas viessem pela Av.Magalhães Neto e/ou Costa Azul e a demanda da parte do Itaigara ser atendido por linhas que vão EXCLUSIVAMENTE para o Itaigara.

Este é apenas um exemplo do que poderia ser feito para reduzir tempo de viagem e o transtorno que as pessoas tem ao fazerem roteiros gigantescos para chegar nos seus destinos.

Aqui mesmo no Portal temos váaaaaaaaaaaaarios projetos de Estações de Transbordo como exemplo do que poderia ser feito para reorganizar o nosso transporte Regular.

Então é isso por hoje pessoal. E você? O que acha? Comente abaixo e fomente esta discussão!!
Abraço!

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Eduardo Lima

Eduardo Lima

Idealizador do Portal Transporte em Debate-Bahia, meio doido, fanático por Transporte Urbano, e estudante nas horas vagas...

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Um comentário em “O “problema” do Transporte Clandestino

  • 29 de julho de 2012 em 19:29
    Permalink

    GOSTARIA PARA OPERAR A LINHA 1207-01 E 0219-01 RIBEIRA X RODOVARIA E TANCREDO NEVES X EST.IGUATEMI, SERÁ EXISTE ISSO AI!

    Resposta

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